Onde as palavras só serão lidas por quem as quiser absorver...

sábado, 30 de agosto de 2008

7:30 AM

(Hei porque estás aqui?)
-Olá amor…
(Amor?)
- Porque estás aqui?
-Linda, eu voltei, tu pediste e eu voltei.
(Tu voltas-te? Eu pedi?)
-Mas…
-Não precisas dizer nada linda, agora eu estou aqui e vai correr tudo bem!
(Não correu da primeira vez, porque correria agora? Mas afinal de contas, porque é que estás aqui?)
-Mas eu não me lembro de te ter pedido nada...
-Claro que te lembras amor, a nossa noite princesa, disseste de novo que me amavas e que íamos finalmente ficar juntos…
(Eu disse isso? Mas eu não te amo nem quero ficar contigo, porque o diria?)
-Linda estás bem?
(Agora já não sei se estou, não me lembro de nada e agora tu estás aqui…)
-Bem, sim, mas não entendo porque estás aqui e estou meio atordoada!
-Eu acho que bebeste demais.
(Então foi isso… mas não foi só isso, não pode ter sido só isso)
-Eu ofereci-te uma bebida mas acho que já tinhas bebido…
(Foste tu, eu ontem não bebi mais do que isso…)
-Saí daqui! Não te quero mais na minha vida, não mereces o que te dou, não mereces estas aqui! Amei-te muito no passado, mas eu cresci e tu também, eu mudei e tu não sei… Eu segui a minha vida, sem ti, e quero continuar com ela, sem ti…

sábado, 9 de agosto de 2008

Abram-se portas!

“Fechaste-te no teu mundo e a única coisa que lá está é a Joana. E eu fico do lado de fora a bater à porta mas tu nem ouves. Provavelmente vou ter de partir uma janela para conseguir entrar. Só para tu me expulsares a seguir.”

Fecharam-se as portas sem eu dar por isso e as únicas pessoas que conseguiam entrar eram aquelas que tinham a chave, eu não ouvia o tuc-tuc de quem batia nem tão pouco o toque da campainha. Estava centrada na Joana e nada mais queria ouvir… Mas tu partiste uma janela e entraste, ao mesmo tempo em que a porta se abriu e ela saiu, não porque eu lhe tenha aberto a porta, mas porque eu deixei de a ouvir…
Fui atrás dela enquanto te deixei sozinha, de janela partida e de porta aberta, para que nada te impedisse de partir. Quando voltei, com ela, tu ainda lá estavas e mais uma vez eu não fui capaz de a ouvir só a ela, e novamente ela partiu… As vezes que isto sucedeu foram imensas, ela partia e eu corria atrás dela porque nunca fui capaz de enfrentar a minha vida sem ela.
Agora que ela partiu e eu já não tive forças para correr, ou agora que ela foi mais forte do que eu, voltei destroçada… Encontrei-te lá como sempre, mas desta vez eu estava magoada e (mesmo sem a ter a ela) não queria ouvir-te. Queria voltar a concentrar-me nela, só que ela já não lá está para eu a ouvir. Queria voltar a fechar as portas e a tê-la. Só que ela já não quer e eu tenho que fingir que a minha vida ainda faz sentido e seguir em frente.
Pois agora: abram-se portas, partam-se janelas, afastem-se as cortinas e deixem a vida entrar, eu não me quero voltar a fechar cá dentro (embora haja quem detenha mais a minha atenção)... Entrem todos para então poder fechar portas e ter-vos a todos cá dentro e esperar que ela volte e entre de novo na minha vida, pronta para abalar tudo outra vez e para voltar a mudar o fim da história.
Prometo não vos mandar embora, prometo não expulsar ninguém… Só não prometo conseguir cumprir o que prometi, mas prometo tentar. Mesmo que os meus braços não procurem o vosso abraço os meus olhos o indicarão, mesmo que eu tente partir as minhas pernas irão impedir-me de o fazer, mesmo que a minha boca já não diga que vos ama o meu coração fá-lo-á.

Obrigada por permanecerem @ Vítor, Cláudia, Apolo, Marina, Joana (Ferreira), Inês, Ricardo, Tiago, Telmo, Rafael, Gonçalo…

segunda-feira, 4 de agosto de 2008

“Há sempre alguma coisa que vale a pena”

No desfeche mais esperado disseste que “há sempre alguma coisa que vale a pena”. Eu ontem também tinha a certeza disso, nem que fosse a esperança, havia algo que valia a pena. Agora? Não sei se algo valerá… Perdi-te! (Não que sejas um peluche ou um porta-chaves que se perde por ai). Mas porque foste a minha mais preciosa conquista e a minha maior perda, porque foste a minha melhor amiga, a minha primeira melhor amiga, a mais sincera, aquela por quem mais fiz e que no fim de tudo, a pessoa que mais magoei.
Já não te peço perdão, até porque me pediste que não o fizesse. Pergunto-me como farei agora para olhar em frente, o que me dará força para acordar amanhã, o que sustentará o meu sorriso… Não creio que haja algo que amanhã me faça sorrir, não creio que volte a sorrir como o fiz contigo a meu lado.
És a pessoa que mais amo na minha vida, cresci em tudo a teu lado, tarde demais me apercebi disso. Obrigada por todos os momentos que vivi contigo, nada mudaria de tudo o que vivemos juntas. Agora choro por jamais o poder viver, por jamais estares a meu lado para me veres sorrir, por jamais sorrir como o fiz contigo…
Partirás e levarás contigo parte do meu coração, não sei de que te valerá ele agora. Contentar-me-ei agora em ver-te longe. Contemplarei o teu sorriso e esse será o meu único motivo de sorrir. Sorrirei ao ver-te sorrir, prometo.
Amar-te-ei por toda a minha vida, seria incapaz de não o fazer.

sábado, 2 de agosto de 2008

O (infinito) poder de sonhar.

15 de Outubro de 2018

É mais um dia, o sol tenta brilhar lá fora contudo as nuvens de princípio de Outono impedem-no de iluminar por completo a minha janela. O despertador há já muito que tocou mas eu ainda estou de pijama a contemplar a vista magnífica do nosso apartamento (ainda não me habituei a acordar vislumbrando o oceano). Como a minha vida teria sido mais calma se olhasse o mar a cada amanhecer…
É segunda-feira, o trabalho aguarda-me e sinto vontade de ser criança outra vez, queria não ter que sair para trabalhar. Não perdi muito do lado criança que havia em mim, ainda o tenho, só já não me resta a escola ou algo onde a preocupação fosse reduzida. Em vez disso tenho uma bela roupa pendurada no meu roupeiro, maior ainda do que o cobiçado roupeiro cinzento que tinha quando mais nova, roupa essa com a qual irei sair mais um dia para me sentar na minha secretária num dos lugares mais desejados por qualquer pessoa que ambicione trabalhar num banco (às vezes quando acordo e vejo a imensidão do mar pergunto se valerá assim tanto esse lugar que ocupo e se terá valido a pena tudo aquilo que lutei para o alcançar).
São agora 8 horas, gosto de saber que mesmo estando atrasada ainda me resta uma imensidão de tempo. A roupa já cobre o meu corpo que ainda há bem pouco tempo estava tão diferente. Hoje visto uma saia pelo joelho cor-de-cereja com uma camisa de manga em balão branca, o casaco que condiz com a saia está ainda pendurado na cadeira e ainda estou a pensar se o irei levar comigo para o caso de ter frio. Tenho um espelho à minha frente para o qual me maquilho com uma sombra avermelhada e um batom discreto, a maquilhagem essencial ao meu dia-a-dia. Disfarço as marcas que deixei na pele durante a adolescência com um pouco de base ligeiramente mais escura que o meu tom ainda bronzeado do verão.
Desço agora as escadas que vão dar a sala principal, a cozinha fica do lado direito e é para lá que me dirijo para preparar o pequeno almoço… As torradas ficam prontas ao mesmo tempo que oiço um sussurrar atrás de mim: “Essa saia fica-te tão bem”. Como é bom ouvir um elogio (teu) pela manhã. Um beijo de bom dia é aquilo que me dás a cada alvorecer (continuo a ansiar por tanto mais…) e a cada dia que passa me contento mais um pouco. Saímos os dois à mesma hora (feliz coincidência) enquanto deixamos a tua irmã a dormir. A realidade é que já não somos os primeiros a bater a porta… Fico feliz todos os dias, não só pelo mar mas por saber que nos mantivemos juntos (todos) e que conseguimos realizar aquele sonho que começou numa noite enquanto víamos as casas que estavam à venda em qualquer lugar. Diria loucura mas agora não viveria sem esta saudável loucura…
Enquanto tomamos o café falamos sobre o tempo, o trânsito, as contas, coisas banais do dia-a-dia (penso sempre que estou num dejávu dos meus sonhos de menina) e até o café estar acabado parecemos dois estranhos a falar de coisas sem a mínima importância. Ao sair pela porta dizes, como em todos os dias, “porta-te mal” e eu penso sempre se essa frase poderá ter uma segunda intenção. Despeço-me de ti com um beijo no rosto e cada um de nós segue no seu caminho…
É bom saber que ainda estás por perto, mesmo diariamente distante, também há momentos em que a nossa amizade (antiga e especial) é exibida e relembrada. Podemos ter momentos em que somos meros estranhos… mas temos momentos em que não há nada de estranho entre nós!
O dia no trabalho é igual a qualquer outro, agora acho estranho ter um dia sonhado com isto, com papeladas, com contas, com administração de coisas que não me dizem o menor respeito… Mas lutei tanto por estar aqui, alcançar este lugar! Consegui-o!
Ao regressar a casa entro pela porta, sei que a menina que ficou a dormir quando eu saí de casa já lá estará à minha espera visto ter um horário de fazer inveja a todos nós… Entro pela porta sempre com um sorriso (pois prometi que o faria mesmo quando não o quisesse) e tu respondes-me com um sorriso também. Entre nós não muito mudou, continuas a ser a mesma menina que faz tudo por um sorriso meu e a qual o seu sorriso me faz sorrir. Há uns 12 anos atrás não pensaria estar aqui, hoje qualquer outro lugar me seria estranho se não estivesses por perto, se não pudesse ver o teu sorriso. É-me tão importante como o mar ou como o “bom dia” do teu irmão… Talvez até mais importante do que isso! És a razão do meu sorriso quando chego a casa.
O tempo passa-se e estamos quase todos em casa, de volta da televisão ou entusiasmados com um qualquer livro que já algum de nós leu e achou fascinante. Eu (como em qualquer outra noite) estou deitada no teu colo a ler ou a ver televisão, ou a fazer as duas coisas ao mesmo tempo. Mas estou no teu colo. Tu que te tornas-te o meu fiel amigo e confidente, tu que sabes tudo da minha vida e que te tornas-te insubstituível. Tu que sabes que eu ainda penso no dia em que estarei no colo dele mas que me deixas estar no teu colo todas as noites porque sabes que isso me acalma e me relembra outros tempos. Tu que me fazes festinhas no cabelo e me deixas dormitar até chegar a hora de irmos comer…
Estamos a algum tempo a atrasar o jantar para podermos estar todos juntos a mesa, é a única hora do dia em que nos podemos juntar para conversar, para conviver. É para mim o melhor momento do dia, todos juntos…
Tu entras pela porta, ainda com o cigarro aceso, pedes desculpa pelas horas e inventas uma desculpa à pressão. Não sei se sou a única a não acreditar naquilo que dizes. Pomos a mesa e servimos o jantar. Todos notam a minha nostalgia ao olhar para a data no frigorífico. 15 de Outubro. Passaram-se 15 anos. Ainda me dói. Ainda sinto a falta dele. São incapazes de tocar no assunto e fazem de tudo para me animar, agradeço-vos tanto por isso.
Sou a primeira a sair da mesa, costumo ser das últimas mas o dia de hoje não é um dia qualquer. Dirijo-me para o meu quarto e sento-me na minha cama… Volto a olhar para o espelho onde me maquilhei mais cedo, vejo uma lágrima escorrer pelo meu rosto. Tentei não pensar nisto o dia inteiro mas com a chegada da lua sinto-me incapaz de o fazer. Sentada pego em fotos antigas que estão guardadas numa caixa dita de recordações. Não o deveria fazer. Vai trazer-me mais lágrimas ao rosto. Mas agora as fotos já estão em cima da cama e já as observo uma por uma (e as lágrimas já escorrem pela cara).
A porta leva uma ligeira batida da tua mão – tuc, tuc, tuc – entras e eu tento disfarçar o choro. Sei que virão um por um saber se estou bem, todos os anos fazem isso, mas nunca tinhas sido tu o primeiro. Dizes que não preciso disfarçar, chorar faz bem, limpa o espírito. Dizes ser incapaz de imaginar a minha dor mas que se eu precisar de um ombro amigo estarás lá. Passas-me a mão pelo cabelo, pondo-o preso atrás da minha orelha e aproveitas para me limpar a lágrima que eu não consegui esconder. Dás-me um beijo na testa e dizes, como todos os anos, “o dia de amanhã será melhor”.
Eu continuo no quarto perdida nas minhas memórias e envolvida em saudades. Tu, a minha menina, entras sem bater, sabes que me vais encontrar a chorar mas assim não terei tempo de disfarçar. Não erras. Sentas-te na beira da cama e seguras uma fotografia. Nela: eu, tu, a Nini e a Joana. Juntas a sorrir. Vês-me desviar a olhar dessa foto, era talvez a última que queria ver. Juntas uma das tuas lágrimas às minhas, ambas pensamos porque é que tinha de ser assim. Nem é preciso falar. Dás-me um beijo doce e sais tão silenciosamente como entraste.
Agarro essa nossa foto e mais umas quantas que estavam junto a essa, fotos com mais de 10 anos mas pelas quais ainda luto. Não quero voltar a chorar pois ainda faltam dois de vós. E tal como pensei é o meu confidente quem me vem desejar boa noite, dizes que não gostas de me ver chorar nem triste. Eu sei que não gostas. Não sou capaz de evitar. Puxas os lençóis para baixo como que me quisesse deitar. Eu apenas aceno que não com a cabeça, estou incapaz de falar. Seguro na minha mão uma foto que tu tens também no teu quarto. Sabes que é uma foto com mais significado do que qualquer outra. Tiras-ma e dizes para me deitar. Ordenas-me. Guardas todas as fotos dentro da caixa e pões-na no fundo do armário. Dás-me um beijo e pedes que tente dormir. Eu esforço um sorriso e sento-me na cama como se me fosse deitar. Sais pela porta e apagas a luz.
Imediatamente após a tua saída volto a acender a luz e só não volto a ir buscar as fotos porque a tua irmã entra no quarto. “Sei que estiveste a chorar, compreendo o que sentes mas tens que ser forte…”, vais falando enquanto eu me deito na minha cama. Apercebes-te que não estou para conversas e apenas dizes “ainda te amo, mana”… Eu também o sinto mas já não o digo, sinto-o. Deixei de o dizer, acho que o demonstro. Dás-me um doce beijo e abafas-me na minha cama, todos me querem adormecer para que acorde amanhã com outra cara e esqueça que já passaram 15 anos.
Eu penso no quanto vocês são importantes, olho para a parede que tem uma enorme foto nossa alegres e sorridentes e consigo sorrir também (como sorrimos naquele dia em que tirámos aquela foto). Gosto de olhar para a nossa foto antes de adormecer para relembrar o quanto sou feliz a vosso lado. Mas hoje olho também para a secretária, está lá uma foto de 2007. Eu e a Joana. É antiga. Mas ainda luto por ela. Por reconquistar-te. Ainda luto pelo teu amor. Disse que não ia desistir.
Por fim adormeço, amanhã será outro dia, ter-te-ei a meu lado no pequeno-almoço, ter-te-ei à minha espera quando chegar a casa, terei o teu colo antes de jantar e adormecerei com um beijo doce. A Joana será a última pessoa que verei antes de adormecer, uma foto antiga mas que continuo a amar a cada dia que passa.

(Este é o meu poder infinito de sonhar…)